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O Trabalho Na Era Digital - Anotações Da Aula

por Vamoss


Publicado 5anosatrás


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Aula realizada em 27 e 28 de abril de 2020 no endereço itsrio.org/pt/cursos/its-de-salas-abertas-pt-2/.

Estas anotações foram transcritas em tempo real a partir do webinário e carece de revisão.

Apresentação disponibilizada pelo curso.

Professor Victor Barcellos

Doutorando em Comunicação e Cultura na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Mestre em Ciência da Informação pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia em convênio com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (IBICT-UFRJ). Graduado em Comunicação Social com habilitação em Relações Públicas pela Universidade de São Paulo (USP).

Economia do compartilhamento

Reflexões do Livro: A ideologia californiana - uma critica à ideologia nascida no vale do silício

  • Contracultura (hippie) + utopismo tecnológico (yuppie) = espírito do Vale do Silício
  • Novas tecnologias poderiam emancipar o ser humano.
    • Com um certo nível de avanço tecnológico seríamos capaz de resolvermos nossos problemas.
    • Alcançando a liberdade das estruturas rígidas do mundo industrial.
  • Mundo pós-industrial baseado na economia do conhecimento.
    • O conhecimento é uma das principais comodities no sistema de produção.
  • Indivíduos conectados mundialmente em comunidades digitais.

    • Aldeia global - o mundo inteiro se conectaria através de uma grande comunidade.
  • Estruturas sociais, políticas e legais substituídas por interações autônomas entre pessoas e softwares.

  • Não precisaríamos mais de burocracias.
  • "Quem pensaria que uma mistura tão contraditória de determinismo tecnológico e individualismo libertário se tornaria a ortodoxia híbrida da era da informação?"
  • Classe virtual: os primeiros trabalhadores das empresas ".com"
  • "Incapazes de submetê-los à disciplina da linha de produção ou substituí-los por máquinas, os gerentes organizaram esses trabalhadores e intelectuais através de contratos temporários"

  • A esperança(utópica) era:

  • "Se eu tiver a tecnologia certa eu não vou depender de patrão e nem do governo"

Sociedade de plataforma

Livro: The platform Society - Public values in connective world

"Infraestruturas digitais estruturadas por dados, organizadas por algoritmos e governadas por relações de propriedade, com normas e valores inscritos em seus desenhos."

"Recusando interpretações tecnicistas das plataformas, os autores propõem que as atividades se dão em um sistema que molda a interação e a sociabilidade, muito mais do que apenas facilitar ações prévias sem interferência significativas."

Principais elementos:

  1. dados (que alimentam esses sistemas)
  2. algoritmos e interfaces (que os formatam e organizam)
  3. relações de propriedade (responsáveis por formalizar esses sistemas), são movidas por modelos de negócios e governados por termos de uso.

A grande crítica é:

  • Quem são os proprietários da plataformas? Nós podemos interferir nestas decisões?
  • Que termos de usos são esses que definem as interações?
    • Aqueles que trocam nossos dados pelo acesso "gratuito" à plataforma?

Tipo de plataformas:

  1. Infraestruturais
  2. Setoriais (conectores entre consumidores finais e provedores de bens e serviços)

Mecanismos:

  1. Dataficação - toda e qualquer ação ou interação online é passível de ser capturada e registrada, transformada em dados.
  2. Comodificação - transformação da atividade em mercadorias que podem ser negociadas.
  3. Seleção - ativar e filtrar a atividade dos usuários por meio de interfaces e algoritmos.

"A sociedade de plataforma é definida como aquela na qual o 'tráfego social' e econômico é cada vez mais canalizado por um ecossistema global de plataformas online (esmagadoramente corporativo) que é conduzido por algoritmos e alimentado por dados."

"as plataformas exerceriam uma função performativa. Mais do que conectar atores, 'conduzem como eles se conectarão entre si.'"

  • A ideia de que essas empresas não conecta apenas indivíduos isolados, mas ela define COMO eles vão se conectar. As plataformas corporativas estão ditando como nós podemos interagir.
  • Então precisamos ter um debate sobre como essas empresas podem incorporar valores públicos na modelagem destas interações.

Plataformas = meios de produção + meios de comunicação (Raymond Williams)

  • Precisamos pensar essas duas dimensões que determinam como nos comunicamos/interagimos socialmente.

Capitalismo de plataforma

Livro: Platform Capitalism de Nick Srnicek

Modelo de negócios

  • Para o autor seria um modelo de negócio que tem se tornar um modelo hegemônico.

Nova fase do capitalismo - exploração econômica dos dados como lugar central dos empreendimentos privados.

Novas tecnologias e novos modelos organizacionais.

Empresas que provêm os fundamentos de hardware e software para operarmos nelas.

Tendências monopolísitica.

  • Essas empresas de plataforma tendem a se concentrar em grandes grupos de empresas.

Características:

  1. Intermediárias organizadores de mercados.
  2. Efeitos de rede: quanto mais usuários, mais valiosa.
  3. Subsídio cruzado: formas de monetização indiretas.
  4. Governança: definem as regras de interação, geração e distribuição de valor.

Tendências da dinâmica concorrencial:

  1. Expansão da extração de dados.
    • Ela extrai dados que outras empresas não conseguiam.
    • Algum comportamento que até então não era identificado. E assim se torna um diferencial competitivo.
  2. Aumento da capacidade de analisá-los.
  3. Formação de ecossistemas fechados.
    • Diferente da utopia de uma internet aberta, há uma tendência a estas empresas fecharem as tecnologias.

Tipos de plataformas:

  1. Lean platforms - Intermediação de serviços sem bens físicos e terceirização de custos.
  2. Advertisement platforms - Algoritmos e matching para segmentação focada em publicidade.
  3. Cloud platforms - Oferecimento de máquinas, dispositivos e serviços para negócios e indústria.
  4. Product platforms - Transformação de produtos em serviços e monetizam recursos abertos.

Uberização do trabalho? Lógicas diferentes

  • A ideia de que a maior parte do trabalho se assemelha ao Uber.
  • O modelo do Uber é um só dentro outros.
  • Por isso é melhor chamar de plataformização do trabalho, do que uberização.

Tipos de plataforma (Rafael Grohmann)

  1. Plataformas de localização específica (Uber, iFood, Rappi)
  2. Plataformas de microtrabalho - treinar IA (Amazon mechanical turk, moderadores conteúdo)
  3. Plataformas de macrotrabalho (freelancers)

GAFAM: maiores proprietárias das infraestruturas da sociedade

  • São as 5 maiores empresas que dominam o mercado.
  • Google, Amazon, Facebook, Apple e Microsoft.
  • Elas sozinhas dominam praticamente toda a rede.
  • Reforçando a ideia de monopólio.

Trabalhadores de plataforma são empreendedores?

  • Essas empresas falam que seu funcionários são funcionários, são?

Gestão algorítmica do trabalho: meu chefe é um robô?

  • O seu chefe define quanto você vai ganhar por corrida.
  • O trabalho sendo cada vez mais sendo gerido por algoritmos.
  • Você não tem para quem reclamar.

Escravidão moderna

Trabalho Digital

Duas concepções (Rafael Grohmann):

  1. Definição ampla: qualquer atividade de trabalho na cadeia global com algum componente digital (ex. linha de montagem da Foxcoon para produção de celulares)(Christian Fuchs)
  2. Definição estrita: trabalho mediado, organizado e governado em plataformas digitais (Antonio Casilli)

Capitalismo de vigilância

É uma ideia que dialoga com o capitalismo de plataforma, mas que dá ênfase a vigilância.

A vigilância seria o que dá a ideia de valor.

"I can be googled, therefore I am" - Se posso ser vigiado, eu não existo.

Livro: The age of survaillance capitalism (Este livro tem ganhado uma escala global) Livro: Tecnopolíticas da vigilância (De Fernanda Bruno da UFRJ que trabalha o tema da vigilância)

"nova ordem econômica que considera a experiência humana como material cru gratuito para práticas comerciais ocultas de extração, predição e venda"

"utiliza a imensurável quantidade de dados que usuários fornecem gratuitamente a empresas de tecnologias (como as que detêm redes sociais e buscadores) transformando-as em matéria-prima e produto final altamente lucrativos"

É baseado nos processos de extração e refinamento para predição de comportamento.

  • "As vezes a ferramenta sabe melhor que a gente o que queremos"

Divisão da sociedade entre observadores e observados

  • Michel Foucault, conceito de panóptico, onde ele constrói a imagem de uma prisão com uma torre no meio, essa pessoas no meio seria capaz de vigiar todo, mas que não que são vistos.
  • As empresas querem ver todos, mas não querem ser vistas como observadoras.

Todas as empresas estão fadadas a se tornarem "data companies".

  • É uma grande tendência, em algum momento aquela empresa vai se tornar uma empresa de tecnologia / dados.

Google como pioneira

  • O Google faz registro do que você está pesquisa, e a partir disso ele classifica seus interesses.
  • Quanto uma empresa deseja anunciar o Google consegue direcionar baseado no seu perfil.

Características

  1. A direção através de mais e mais extração de dados e análise.
  2. O desenvolvimento de novas formas contratuais usando monitoramento computacional e automação.
  3. O desejo de personalizar e customizar os serviços oferecidos para os usuários de plataformas digitais.
  4. O uso de infraestrutura tecnológica para executar experimentos futuros em seus usuários e consumidores.

Big other: nova expressão de poder

Diferente de Big Brother do livro 1984 - George Orwell... Usa da vigilância para gera negócio.

"Será que seremos mestres da informação ou seremos escravos?"

"Se o futuro digital é a nossa casa, então seremos nós que devemos domá-lo"

  • Nós precisamos assumir o debate, e que esse debate não seja determinado pelas empresas que visam lucro.

Ameaça à liberdade e privacidade

A defesa dos valores públicos no capitalismo de plataforma

"Governando uma Sociedade de Plataforma Responsável"

  • Como vamos lidar economicamente e eticamente esses conceitos?
  • Como as instituições públicas podem se reconfigurar nesse contexto?

"Plataformas não possuem apenas poder econômico, mas também cívico"

Como "garantir ao indivíduos o controle sobre seus dados e permitir à sociedade controlar os bancos e fluxos de dados em defesa de uma sociedade igualitária, inclusiva e que proporcione tratamento justo ao cidadãos."?

Movimentos:

  1. Criação de políticas, diretrizes éticas e regulação do trabalho.
  2. Organização coletiva dos trabalhadores digitais.
    • Greve dos motoboys
  3. Plataformização dos serviços públicos.
    • O governo precisa se tornar uma plataforma digital para não perder a hegemonia sobre as empresas.
    • Podemos ter serviços públicos oferecidos por plataformas digitais.
  4. Formas alternativas de auto-organização do trabalho.
    • Cooperativismo de plataforma.
    • Os trabalhos podem criar suas próprias plataformas.
    • Auto-gestão de forma democráticas e igualitárias.

[Fim da aula 1 e início da aula 2]

Vetorialismo

Conceito criado por de Mackenzie Wark, não estaríamos mais capitalismo, mas no vetorialismo - "E se isso não for o capitalismo, mas algo pior?"

A classe vetorialista exerce poder através do controle sobre os vetores de informação.

Apropriação da informação produzida coletivamente por meio de mecanismos de propriedade intelectual.

Classe vetorialista vs classe hacker

  • Os hackers podem criar suas próprias estruturas alternativas de trabalho

"Por que não usar as habilidades específicas que os hackers têm de organizar a informação para criar outras formas de organizar o trabalho?"

O projeto de uma economia democrática e igualitária

O surgimento do projeto

  • Inicio em meados de 2015
  • Professores de Mídia e Cultura da The New School
  • Plataformas criadas e geridas pelos próprios trabalhadores
  • Gestão democrática e distribuição mais igualitária dos rendimentos

"Ninguém teria acreditado, na primeira década do século XXI, que a bolha ideológica da 'economia do compartilhamento' se esvaziaria tão rapidamente, ou que trabalhadores, defensores do trabalho, programadores e ativistas logo começariam a construir estruturas para propriedade democrática e governança na internet."

Livro: Uberworked and underpaid

"Outra sugestão é construir plataformas de serviços e mercados online democraticamente controlados, de propriedade e operados por aqueles que mais dependem deles. Uma rede organizada em torno do que chamei de 'cooperativismo de plataforma' poderia rivalizar com empresas como a Amazon ou a Uber. As cidades poderiam construir e operar suas próprias plataformas para aluguéis de curto prazo, e sindicatos criativos poderiam proteger os trabalhadores na economia de plataformas. Essas 'cooperativas de plataformas' já existem hoje; eles demonstram que a sociedade pode desenvolver positivamente uma visão moral do trabalho digital que não tolera vigilância, extração sub-repticia e exploração."

Livro: Cooperativismo de plataforma

Qual internet queremos?

Cooperativismo de plataforma OU Modelo vale do silício?

Princípios do cooperativismo de plataforma

  1. Propriedade coletiva
  2. Pagamentos decentes e seguridade de renda
  3. Transparência e portabilidade de dados
  4. Apreciação e reconhecimento
  5. Trabalho co-determinado
  6. Moldura jurídica protetora
  7. Proteção trabalhistas portáveis e benefícios
  8. Proteção contra comportamento arbitrário
  9. Rejeição de vigilância do ambiente de trabalho
  10. O direito de se desconectar
    • E levar todos os seus dados

Cooperativismo no mundo

Cooperativismo não é algo novo, existem cooperativismos há muito tempo, o que é novo é o cooperativismo de plataforma.

O modelo cooperativismo está em: 250 milhões de empregos 100 países 1 bilhões de pessoas se fosse um país, seria 9a economia do mundo 1 a cada 1 pessoas no mundo são associadas a cooperativa 2,6 milhões de cooperativas

Cooperativismo no Brasil

Organização das cooperativas brasileiras (OCB)

Via de mão-dupla

Plataformas >< Cooperativas

Plataformas que podem se cooperativizar

Cooperativas que podem se plataformizar

Criticas

  1. As cooperativas não conseguirão competir com as empresas do capitalismo de plataforma
  2. Em algum momento o anseio por lucro brotará e acabará as transformando em startups
  3. Sem uma hierarquia rígida não haveria como conciliar os diferentes interesses de seus membros

Exemplos de cooperativas digitais

  1. Resonate - plataforma de streaming de música (alternativa ao Spotify)
  2. Loconomics - plataforma que oferece serviços doméstico diversos
  3. Fairmondo - plataforma de comércio eletrônico (alternativa ao Ebay)
  4. Fairbnb - plataforma de aluguel de residências (alternativa ao Airbnb)
  5. Means TV - plataforma de streaming de vídeo

Sugestões para aprofundamento

Newsletter: Digilabour

Documentário: GIG - A Uberização do Trabalho

Entrevista: Tecnopolítica#21 - Plataformas Digitais e a Precarização do trabalho

Palestra: Nick Srnicek - Plataform Capitalism

Artigo: Nem todo Uber é capitalista

Documentário: The cleaners

Revista Contracampo (UFF): Trabalho de plataforma

Filme: "Você não estava aqui" (Sorry We Missed You).


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